"A liberdade é traiçoeira
Que nem amor de menina
Se amoita em cada moita
Se esquiva em cada esquina"
Hoje o analismo começa com um trecho da música de Tom Zé, Sobre a Liberdade. E pra não limitar seu poder de compreensão, vamos deixar vocês lerem mais uma vez e interpretarem como bem quiserem, esperando que no final do texto, vocês compreendam o verdadeiro sentido da canção. E tem mais, o analismo de hoje é diferente por um simples motivo: Vocês devem ter percebido que utilizei o verbo ir na primeira pessoa do plural e antes que comecem a achar que não sei mais conjugar os verbos (ou que usei alguma coisinha ilícita) tudo se explica pelo fato de que esse analismo não foi feito apenas por mim, como também pelo meu grande amigo (exagero, sim) Vinicius Guimarães, que cansados de reclamar um para o outro, resolvemos compartilhar nossas "revoltas". Espero que curtam.
Não é difícil, muito pelo contrário, encontrar no facebook ou no orkut (sacanagem, sim) pessoas expondo as suas vidas de uma maneira tão íntima ao ponto de nos fazer pensar duas vezes antes de jantar. Essa auto promoção e essas lições de moral que circulam pela rede ultimamente, apenas vem comprovando a nossa crença de que algumas pessoas só podem (ou devem) estar doentes para sentirem tanta necessidade em expor suas vidas e aguardar os aplausos dos outros, que nesse caso são curtidas. As redes sociais que são lugares pra compartilhar pensamentos, sentimentos e ideias que ajudem a melhorar o meio em que vivemos, se tornam meros buracos que abrigam a ignorância e o egoísmo das pessoas.
A vida de grande parte dos internautas precisa se tornar algo mais emocionante do que a simples expectativa de ganhar um "like" na sua foto tirada no espelho ou no seu texto copiado do pensador. Com a globalização e os meios de comunicação em massa, o conhecimento está bem diante dos nossos olhos. Troca de informações, debates envolvendo questões polêmicas que nos façam chegar em um denominador comum, entre tantos outros assuntos mais importantes se tornam segundo plano na rotina das pessoas. Questões supérfluas como postagens de frases clichês do tipo: "ninguém me ama", "falar de mim é fácil, difícil é ser eu", "não sou perfeita e nem quero ser", "se fosse putaria você iria curtir", e outras que não cabem aqui, já estão mais do que na hora de se tornarem cartas fora do baralho, ainda mais em um momento tão significativo para o nosso país.
Como se já não bastasse falar de suas quase movimentadas vidinhas, as pessoas ainda tem o prazer de divulgar a vida dos outros. Esses dias, algumas postagens (videos, fotos, textos) mostraram pessoas que utilizavam a situação de outras para se promoverem e ganharem fãs, tão idiotas como eles. Só pra contextualizar, estávamos comentando sobre o "print" de uma conversa no chat do facebook, em que uma garota se insinuava para um garoto, mostrando não se importar em trair seu namorado. O garoto, "printou" a conversa e mandou para o namorado da garota (até ai tudo bem) mas, para não sair perdendo, postou no seu mural com a intenção de ganhar curtidas. Isso é deplorável! Nós só tivemos conhecimento disso porque muitos dos nossos amigos curtiram e comentaram pérolas como: "acho pouco", "bem feito", "tinha que ser pior". A questão é: Desde quando nosso egoísmo se torna uma atitude aplaudível ao ponto de fazer com que nosso comportamento vergonhoso seja extremamente aceitável quando falamos da vida dos outros? Como já disse antes, os problemas dos outros acabam nos fazendo esquecer dos nossos próprios problemas, o que não quer dizer que eles deixem de existir.
Seria engraçado se não fosse triste o vídeo que vem rondando por aí, chamado de "combate das novinhas", e é claro, os mendigos de curtidas não perderam tempo e publicaram em seus perfis. Esse vídeo mostra o fato ocorrido em frente a uma escola da cidade, onde duas garotas brigavam feito animais por um motivo que não era nem compreensível e o mais impressionante eram as reações das pessoas que tratavam aquele conflito como um espetáculo. Enquanto uns olhavam e apreciavam o momento, outros faziam pior, colocando mais pilha na briga. Falar que esse conflito aconteceu por ser em uma escola pública é patético, isso não existe. Se fosse em qualquer outra escola, particular ou pública, as coisas teriam acontecido da mesma maneira, já que é comum gostarmos de ver o circo pegando fogo. Provavelmente o segurança da escola, os responsáveis pelo funcionamento da mesma, o diretor e outros, não fora avisados, e caso tenham percebido e não tenham feito nada, apenas intensificam a ideia de que estamos invertendo nossas prioridades. Certamente, no meio de tantas pessoas, poucas pensaram em tentar acabar com aquilo assim que começou, e essas poucas não agiram, o que é triste. Essas mesmas pessoas, mais tarde, reclamam dos seus direitos, de comportamentos justos dos nossos políticos e se duvidar, até de paz mundial. Esquecendo de perceber que somos nós que ateamos fogo na guerra.
Por fim, a estrofe da música de Tom Zé sintetiza a nossa concepção de liberdade. A liberdade de expressão de uma pessoa termina quando começa a da outra pessoa. Quando atinge o bem estar de quem convive com a gente, querendo ou não. Ferrar a vida de alguém pode ser engraçado, aplaudir uma briga de pé pode ser confortável, mas se colocar no lugar de quem está no palco, sem dúvida alguma, não é tão agradável assim. Não confunda sua necessidade de exposição com liberdade. Ser livre não tem nada a ver com não ter limites. Não ter regras. Não ter bom senso. Fugir disso apenas nos torna presos na nossa própria ignorância. No nosso próprio egoísmo. Na nossa própria liberdade.
Rafael Amorim e Vinicius Guimarães
Até o próximo analismo, leitores!