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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Incaláveis

Depois de muito tempo sem nenhuma postagem, chegou a hora de tirar as teias de aranha desse lugar. Confesso que já estava impaciente para escrever (lê-se saudade) e compartilhar com vocês, fieis leitores (lê-se saudade novamente), mais uma das minhas opiniões acerca desse mundinho que nós chamamos de lar, mesmo que ainda esteja muito distante de se tornar um. O tema do analismo de hoje é óbvio e confesso que talvez eu esteja um pouco atrasado, mas explicarei o porquê no final da postagem. Sem mais, vamos de uma vez por todas falar dos inúmeros protestos que vem assolando nosso país e me enchendo de orgulho.

Eu acho que o assunto dispensa apresentações, mas como de costume, vamos falar um pouco sobre como tudo isso começou. O estopim para as manifestações, que foram iniciadas em São Paulo, foi o aumento de vinte centavos na tarifa do ônibus. Sim, míseros 20 centavos que talvez não façam falta no seu bolso, mas que despertaram em milhares de pessoas a falta de muitas outras coisas. Os protestos, em pouco tempo, ganharam espaço e atenção da população que começou a sair nas ruas para exigir do governo aquilo que, por direito, é dela! O resultado disso foi um aglomerado cada vez maior de protestos, que saíram de São Paulo e alcançaram todo o Brasil.

Não preciso nem dizer minha opinião para que vocês saibam o que eu penso. Porém, mesmo sem precisar, direi, afinal isso é um analismo e linhas não me limitam (tirei do orkut, sim). A algum tempo atrás, nossa (na verdade, minha) visão dos jovens brasileiros era extremamente pessimista. Ao imaginá-los, eu só conseguia ver um grupo de alienados que se conformavam facilmente com tudo aquilo que era imposto, sem moverem um dedo pra mudar a realidade que os atingia direta ou indiretamente. Mas, as coisas mudam, meu caro. E eles resolvem queimar minha língua e provar que não é bem assim que as coisas funcionam e que, na verdade, elas só funcionam na hora certa.

Realmente o que iniciou a revolta popular foi o aumento da tarifa do ônibus, mas o que conserva a mesma até agora, não é mais isso. Outro dia estava com um amigo da família que disse "são só vinte centavos, não precisa disso tudo, se fosse por outra coisa, seria bem pior", eu discordo e concordo ao mesmo tempo, e como incalável ser que sou, fiz e faço questão de expor o que penso. Discordo porque vinte centavos não mantém tantas manifestações ativas por muito tempo, e mesmo que mantivesse, a tarifa já foi reajustada e a possível "causa" de tanta insatisfação, consequentemente, deixou de existir. O motivo é profundo e lateja na população como uma ferida recente. A saúde de péssima qualidade que mata ou "deixa morrer" milhares de pessoas com frequência, os tímidos e ineficazes investimentos na educação que não são capazes de oferecer um ensino que sane nossa ignorância, a corrupção desmedida daqueles que estão no poder nos representando, as condições precárias do transporte público, a insegurança nas ruas diante da violência crescente e tantos outros problemas que eu poderia listar se tivesse mais espaço ou mais tempo ou mais paciência com essa situação. Por outro lado, preciso concordar com ele quando ele diz que poderia ser pior. Sim, poderia ser pior, pode ser pior, está sendo pior. Porque o povo finalmente descobriu que tem poder pra mudar a triste situação em que nos encontramos e já começou a luta pra reverter tantos anos de silêncio.

É claro que no meio de tantas pessoas, as opiniões se chocam. A consequência disso é o vandalismo e os crimes que acontecem simultâneos aos protestos. Essas atitudes são típicas de gente que não tem argumento pra defender o que pensa, e nessa confusão, tenta chamar a atenção de maneira errada. É claro que você pode discordar disso, mas pense comigo, se a intenção é unir o povo contra algo que atinge todos, saquear lojas, queimar monumentos ou carros, destruir transportes públicos e outros, apenas coloca em má situação quem já está matando cachorro a pau. Entendam, tudo isso apenas divide a população que utiliza, querendo ou não, desses serviços. Tudo isso apenas faz com que o povo desacredite no movimento, e com uma ajudinha (super ajuda, o que nos remete a analismos passados) da mídia, volte-se contra ele.

Os excessos, entretanto, não são apenas por parte dos manifestantes, a polícia age, infelizmente, em muitos momentos com uma violência e repressão desnecessária. Tudo isso também vem ganhando destaque principalmente na internet e como venho acompanhando nos jornais, já está começando a ser investigado para que esses policiais (que também não são maioria) sejam punidos. A maioria, por outro lado, tenta manter a paz nos protestos e porque não, defender alguns manifestantes de outros, que pra mim, deixam de brigar por uma causa justa quando utilizam a força bruta para chamar atenção. 

Algo que me preocupa, entretanto, é o foco dos manifestantes. Ultimamente estamos vendo muita gente falando sobre tudo e não conseguindo enfatizar nada. Pra mim, o movimento se enfraquece quando não é organizado, porque as pessoas começam a lutar por coisas diferentes e no final de tudo, acabam não conseguindo nada. Sou extremamente a favor da liberdade de expressão e concordo que o Brasil precisa mudar em diversos aspectos, mas vamos com calma e com foco, assim chegaremos melhor onde queremos!

Os protestos ganharam repercussão e agora o mundo inteiro fala sobre isso, o que, ao meu ver, é ótimo. Como uma amiga disse (olá Brenda) é libertador ver o Brasil sendo lembrado pelo povo indo às ruas pra brigar por seus direitos e não por um monte de mulher pelada dançando pelas ruas ou em carros que custaram milhões de reais, ou por um futebol que é mais respeitado do que os problemas da nossa nação. A prova disso é a Copa do Mundo que vai acontecer aqui, nesse país que tem estrutura o suficiente para abrigar pessoas de todo o mundo, mas que não tem estrutura o suficiente pra tirar da rua seu próprio povo. Isso por si só rende um analismo cheio de revolta e rancor, mas essa não é a hora, relaxem.

Falando em Copa do Mundo, falando em futebol e falando em brasileiro, nesses últimos dias 2 dos ícones do nosso futebol se manifestaram: Ronaldo Fenômeno e Pelé (cliquem nos nomes para assistirem os videos). O primeiro foi responsável por essa célebre frase: "Não se faz Copa do Mundo com hospital", o segundo pediu para que nós esquecêssemos os protestos e focássemos na seleção brasileira, porque era isso que importava! A minha revolta diante disso foi tanta que não falarei muito, mas, se pudesse falar algo diretamente para eles, diria simplesmente que são eles que não merecem importância alguma. Chutar uma bola e acertar uma rede realmente é motivo de muito orgulho para milhões de brasileiros, mas não pra mim, talvez seja por isso que não sou muito bom nisso. Ver um mendigo sem fome, um doente curado, uma criança de baixa renda lendo um livro ao invés de trabalhar ou um jovem sem condições numa faculdade e escrevendo seu futuro é que me enche de orgulho! Enquanto não conseguirmos isso, continuarei reclamando desse país e que se danem pessoas como vocês, que acham que futebol enche a barriga. Pode até ludibriar os olhos de muitas pessoas, mas não os meus. 

Protesto em Senhor do Bonfim, minha cidade.
A liberdade de expressão é o melhor direito que nós temos e aquele que não nos pode ser roubado facilmente. Com o peito cheio de orgulho, eu consigo ver que os brasileiros estão notando isso e começando a exercer seu papel democrático na sociedade. No inicio desse analismo eu admiti meu atraso em relação a esse tema, o motivo eu lhes falo agora: Ontem, aconteceu aqui na minha cidade um protesto que tirou centenas de pessoas de suas casas com o intuito de acordar o restante pro que está acontecendo aqui, na nossa nação! Eu precisava sentir na pele pra conseguir escrever isso com veracidade e emoção, cantar o hino nacional com meus conterrâneos pra notar que essa esperança é verdadeira e que essa mudança é possível. O movimento foi lindo e arrepiante, o que enfatiza a necessidade de irmos em frente. O caminho pra conseguir uma sociedade justa e igualitária é longo, mas chegaremos no final dele mais rápido se estivermos juntos. E que até lá, sejamos incaláveis!

Até o próximo analismo! (que não vai demorar muito porque: 1. estou em recesso escolar por causa do são joão; 2. detesto o são joão; 3. enquanto não estou curtindo o são joão, estarei escrevendo pra vocês!)